três respirações profundas e diafragmáticas
me livram, ou tentam, do ímpeto de sufocar
todos os problemas de dentro e de fora parecem demais
mas meus motivos fúteis sempre arranjam caminho
nem tudo mudou, nesses novos-normais dias tristes
desamores ainda são o centro-mor das angústias
(seria uma permanência onde se segurar?)
a sensação de sufocar me lembra você
o seu lado é um lugar que não me deixa respirar
eu tenho que ficar tão quietinha, tão miudinha
não viver demais a ponto de ficar ofegante
porque ali sei que vou buscar respiro sem achar
você quer-não-quer tanto, me quer-não-quer tanto
não usa palavras mas me pede pra te pôr num pedestal
e eu boto. e digo que vou bancar se você decidir ficar
você reclama que não era isso que você queria
você sempre diz que nada é como você queria
meus esforços hercúleos não são páreos
para você não sabendo o que quer aqui
seu amor não é nada meritocrático
atravessei meus mares para apostar nas suas delícias
mas o carnaval não veio, e elas também nunca vieram
minhas lembranças tuas são um campo minado
eu corro para relembrar os velhos (e bons?) tempos
e os caminhos sempre explodem antes que eu chegue até você
fico sem chão, me arremessam para longe-tão-longe
lembrar você me deixa em pedaços
na casinha de dentro que eu gosto de brincar
nuns dias você parece uma frase de mal gosto
escrita de canetinha na parede da sala
noutros, você é o maior cômodo da casa inteira
é impossível te ignorar
você me diz entra, fica à vontade
mas tranca a porta a sete chaves
e tampa os ouvidos pra não me ouvir chamar
seu amor é a coisa mais inacessível
que eu encontrei nos últimos tempos
talvez por isso eu não consiga
parir nada que gero sobre você
partidas e recusas são meu ponto fraco
e você diz que não sabe disso
enquanto parte minhas recusas
e recusa minhas partidas
o seu lado me faz sentir como uma mulher fraca
estar com você faz todos os meus pontos fracos
seus retornos sempre me iludem
que você sabe o que quer agora
você acha que eu sou tão forte
por isso sempre vai e volta
nosso laço, há tanto
já não conforta, só sufoca
você chama a mulher que eu não gosto de ser,
se cansa e manda ela embora
cria a coragem que hoje eu não tenho
e deixa nossa história virar memória
